‘Você Nem Imagina’ é versão gay e mais cult de ‘Para Todos Os Garotos…’

filmesgays maio 6, 2020

Uma garota de ascendência asiática que vive nos tempos atuais, mas ainda escreve cartas de amor à mão, e que espera que o alvo de sua paixão jamais descubra seus verdadeiros sentimentos. Sim, você já viu algo parecido na Netflix, e essa é a trama central de “Você Nem Imagina”.

Com ares de “Para Todos os Garotos Que Já Amei”, a comédia romântica estreou na sexta-feira passada (1) e já é o conteúdo mais assistido pelos brasileiros no ranking da plataforma.

Ellie Chu (Leah Lewis) é uma adolescente inteligente e tímida que vive em uma pacata (e fictícia) cidade no interior dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo em que é alvo de bullying na escola por causa de suas raízes chinesas, é a aluna que salva todo mundo com seu talento para a escrita. Órfã e vivendo com o pai deprimido, ela faz uma renda extra vendendo redações para os seus colegas —mais ou menos como a Maeve Wiley, de “Sex Education”.

Secretamente, Ellie cultiva uma paixão por Aster Flores (Alexxis Lemire), a menina mais bonita e desejada da escola. Mas não é somente a beleza da colega que a encanta, e sim os interesses em comum por literatura e artes. Até que ela recebe uma proposta irrecusável de Paul Munsky (Daniel Diemer) para ajudá-lo a conquistar justamente a popular e comprometida Aster. Como? Com cartas de amor. E um generoso pagamento pelo serviço —mais ou menos como o Otis ajudou o popular Jackson a conquistar Maeve, na mesma “Sex Education”.

Dois fenômenos da Netflix juntos numa série só? Tipo isso. Mas “Você Nem Imagina” está mais para a comédia romântica estrelada por Lana Condor e Noah Centineo.

O público que falta.

Além das protagonistas tímidas, românticas, inteligentes, órfãs de mãe e asiáticas (Ellie Chu é chinesa, enquanto Lara Jean tem ascendência coreana), os dois longas brincam com as figuras típicas do colegial americano e ainda fazem uma ode ao Yakult, bebida que até pode ser comum aqui no Brasil, mas ainda tem uma forte relação com a comunidade asiática nos Estados Unidos.

A diferença de Ellie Chu e Lana Condor está justamente na orientação sexual de cada uma. A primeira tenta negar para si mesma o interesse em Aster Flores, a segunda faz de tudo para os garotos para os quais escreveu as cartas românticas jamais descubram suas intenções. O que faz de “Você Nem Imagina” uma espécie de versão gay de “Para Todos Os Garotos Que Já Amei”, atendendo a um público que há muito tempo já esperava histórias de amor mais próximas de sua realidade.

Versão moderna do clássico teatral “Cyrano de Bergerac”, o novo filme ainda se aproxima de outro título recente e original da plataforma se streaming também pensado para o público adolescente. Em “Sierra Burgess É Uma Loser”, a protagonista igualmente se passa por outra pessoa para conquistar quem ama, como na obra de 1897 do poeta e dramaturgo francês Edmond Rostand.

Atmosfera menos colorida.

Dirigido por Alice Wu e premiado no Festival de Tribecca deste ano, “Você Nem Imagina” ganha uma aura cult se comparado a seus irmãos da Netflix com uma atmosfera mais sombria e várias referências de arte, cinema e literatura, que vão desde uma citação de Platão, que abre o filme, ao cineasta alemão Wim Wenders, passando pela série “Twin Peaks”, um clássico do início dos anos 1990 de David Lynch e Mark Frost.

O livro “Os Vestígios do Dia”, romance do escritor nipo-britânico Kazuo Ishiguro também embala o falso relacionamento entre Aster e Munsky sustentado pelas cartas de Ellie, e os mais atentos vão captar referências ainda mais hipsters. Há uma citação à Powell’s Books, a maior livraria independente do mundo, que fica em Portand, no Oregon, no noroeste dos Estados Unidos, provável região da fictícia Squahamish, cidade onde se passa o filme.

“Você Nem Imagina” é o puro suco do algoritmo da Netflix, mas merece uma chance por abrir ainda mais espaço para a diversidade de uma forma natural e singela. O ritmo um pouco menos empolgante e a demora para o clímax podem até incomodar, mas o gancho para uma continuação —assim como rolou com “Para Todos Os Garotos Que Já Amei”— deve ser a recompensa.

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